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domingo, 22 de março de 2015

Belágua, cidade dilmista, já tem seus arrependidos

Moradores que deram 94% dos votos à presidente se queixam de tarifas

O Globo - Se pouco antes das eleições de outubro de 2014 seria tarefa quase impossível encontrar no município maranhense de Belágua (a cinco horas de São Luís) alguém que não fosse eleitor de Dilma Rousseff (PT), hoje, com a presidente indo para o quarto mês do segundo mandato, é possível dizer que a situação não é mais a mesma.

Baixa de Dilma

Os moradores da cidade que deu a Dilma 93,93% dos votos — a maior votação proporcional alcançada pela presidente — e que mantêm plena confiança nela ainda perfazem maioria folgada. No entanto, sem esforço, aqui e ali, em breves conversas com os moradores, já se encontra gente que demonstra ter dúvida sobre em quem votaria hoje, e até arrependimento do voto dado, após os primeiros passos do segundo mandato da petista.
Foto: Oswaldo Viviani
Enganado. O agente de saúde Janilson de Sousa disse que Dilma não falou que ia aumentar a conta de luz e a gasolina
Uma delas é o agente comunitário de saúde Janilson Rodrigues de Sousa, de 38 anos. Casado e pai de dois filhos, Janilson — que votou nos dois turnos em Dilma — viu as manifestações contra a presidente na TV e disse que quem foi às ruas tem razão.

— De certa forma, a Dilma surpreendeu todo mundo, inclusive eu. Ela enganou o povo ao não falar sobre as coisas que começou a fazer logo no começo do seu segundo mandato, como aumentar a conta de luz e a gasolina. Isso afetou não só a mim, mas a todo mundo — afirmou o agente de saúde.

Para Janilson, a presidente tem sido “muito omissa”, principalmente em relação ao acompanhamento dos programas sociais do governo federal, como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, que para ele “ficam na mão dos prefeitos”.

— Aqui em Belágua, esses dois programas são controlados pelo prefeito Adalberto (Rodrigues), que é do PT, mesmo partido da Dilma. Eu posso te garantir que a maior parte dos beneficiados é de gente ligada ao prefeito, e muitas vezes tem uns que nem precisam do benefício e ganham. São poucos os que recebem o Bolsa Família ou as casas do Minha Casa sem ter ligação com o prefeito — disse Janilson.

O GLOBO procurou o prefeito de Belágua, Adalberto do Nascimento Rodrigues, o “Sargento Adalberto”, na sede da prefeitura, mas ele não foi encontrado para comentar o suposto privilégio a beneficiários de programas federais no município. Foi tentado, ainda, contato telefônico, mas o prefeito não atendeu as ligações.

O lavrador Augusto Saminez, 60 anos, também viu pela televisão as manifestações anti-Dilma. Augusto disse que se lembrou do ex-presidente Fernando Collor de Mello ao escutar e ver nos cartazes dos manifestantes a palavra “impeachment” (com a ameaça de impedimento, Collor renunciou em 1992).

— Isso quer dizer que o povo quer tirar ela como tirou o Collor — concluiu o lavrador.

Para ele, a presidente continua a merecer um voto de confiança, mas “se tudo continuar aumentando, principalmente as contas de luz”, Augusto garante que passa para o lado dos “arrependidos”:

— Recebo o Bolsa Família, como mais da metade do povo aqui de Belágua, mas apesar dos R$ 150 por mês do programa, não deixo a rocinha de mandioca, milho e feijão que tenho num povoado, de onde eu e alguns dos meus 10 filhos tiramos o sustento.

Morador do bairro Santa Clara, outro lavrador, Francisco das Chagas de Sousa, 49 anos, 7 filhos, igualmente eleitor de Dilma, disse que tomou “um susto” quando recebeu a última conta de luz:

— Na minha casa só tem geladeira, TV e um radinho de pilha, e veio uma conta de R$ 70, o dobro do que sempre pago.

Francisco disse nem saber bem o que é impeachment, nem se é a favor ou contra o afastamento da presidente, mas está certo de que ela “prometeu muita coisa e está fazendo tudo ao contrário”. Se as eleições fossem hoje, o lavrador afirmou ter dúvidas sobre o destino de seu voto.

— Acho que votaria em outra pessoa — afirmou, após pensar um pouco.

Vizinho de Francisco das Chagas, Raimundo Alves Pereira, de 54 anos, também “pensaria mais um pouco” para depositar na urna seu voto.

— No ano passado, eu votei na dona Dilma nos dois turnos, mas a gente ouve muito falar que ela está envolvida nessa corrupção aí, né — disse Raimundo, que tem uma pequena fábrica de farinha de mandioca em casa.

Mas apesar dos “arrependidos”, ou em dúvida, a legião dos correligionários de “dona Dilma” em Belágua ainda está longe de sofrer baixas significativas. A cozinheira Maria Assunção Sousa, 47 anos, casada, uma filha, votou em Dilma nos dois turnos das eleições passadas e garantiu que votaria nela “muitas vezes mais”, apesar de não ter acesso a nenhum dos programas sociais do governo.

— Antes da Dilma, o povo mais pobre aqui de Belágua vivia passando fome. Mal tinha uma farinha pra comer com água — disse Maria Assunção, enquanto “destrinchava” um frango, prato principal do almoço na pousada e restaurante “Belas Águas”, onde trabalha.

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