BRASÍLIA - Ele está, de novo, no meio de uma briga que tem como principais personagens dois ex-presidentes: Lula e Sarney. O petista quer que o PT do Maranhão faça aliança ano que vem com o clã que comanda o estado há 50 anos e não com Flávio Dino, candidato do PCdoB, aliado histórico e fiel do PT desde 1989. Mas, de posse de pesquisa de intenção de voto que o mostra na liderança da disputa e cobrando reciprocidade, Dino, que é presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), ainda tem expectativa de ue, desta vez, o PT apoie sua candidatura ao governo do Maranhão contra o PMDB.
O comunista disse não acreditar que a direção nacional do PT faça nova intervenção no Maranhão, como em 2010, quando forçou o apoio à candidatura de Roseana Sarney (PMDB) contra Dino:
— É uma brutal incoerência um partido que se autodenomina dos trabalhadores ser o principal sustentáculo da última oligarquia do Brasil — afirmou Dino, em entrevista ao GLOBO, na tarde de segunda-feira, na presidência da Embratur.
No último sábado, ao sair de reunião com a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e a cúpula do PT, o presidente interino do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), anunciou que havia sido fechado acordo entre PT e PMDB no Maranhão. A informação foi negada pelo presidente do PT, Rui Falcão, embora a tendência seja essa, já que a aliança entre os dois partidos no estado é defendida por Lula.
Enquanto busca o apoio do PT, Dino já fechou aliança com o PSB de Eduardo Campos, pré-candidato ao Palácio do Planalto contra a reeleição de Dilma. O candidato ao Senado na chapa do comunista será o atual vice-prefeito de São Luís, Roberto Rocha (PSB). Dino diz que, mesmo que feche o apoio do PT, Campos terá lugar assegurado em seu palanque, o que não agrada ao PT. Lula tem tentado isolar Eduardo Campos nos estados, na tentativa de sufocar sua pré-candidatura.
Dino pretende deixar em janeiro o comando da Embratur, subordinada ao Ministério do Turismo, para se dedicar à campanha. Disse que não sente nenhum desconforto em permanecer no comando da autarquia federal e fazer campanha para um adversário da presidente. E, questionado sobre suposta insatisfação de Dilma com uma foto dele ao lado Campos, Dino contemporizou:
— Mas eu tenho uma com ela também, lindinha, bem agarradinho com ela — disse ele, rindo.
O GLOBO - O PT fechou apoio, mais uma vez, ao candidato da família Sarney no Maranhão. Desta vez o senhor tinha expectativa diferente?
FLÁVIO DINO - Há uma batalha de versões, a do (presidente interino do PMDB, Valdir) Raupp e a do Rui Falcão. O presidente do PT disse que não há nada fechado. Uma coisa é a vontade do PMDB, outra é a realidade. Esse processo demanda uma série de questões anteriores. Quando acabará o PED (Processo de Eleições Diretas) do PT do Maranhão? Quem ganhará (a presidência do diretório regional do PT)? Isso influencia na distribuição dos delegados (na convenção) e na proporcionalidade do diretório, que afinal é quem decide. Isso vai até junho do ano que vem.
Em 2010, o PT fez uma intervenção nacional no diretório do Maranhão. Então, o resultado do PED não conta muito...
Não creio que, se nós ganharmos no (diretório do PT no) Maranhão, vá ter nova intervenção. Isso seria um absurdo tão grande que eu não consigo acreditar que um raio caia duas vezes no mesmo lugar. Ainda tenho expectativa de que a gente vá ganhar o apoio do PT do Maranhão, como ganhamos em 2010, e que esse resultado vai ser respeitado pelo PT nacional. É uma brutal incoerência um partido que se autodenomina dos trabalhadores ser o principal sustentáculo da última oligarquia do Brasil.
O candidato ao Senado de sua chapa é do PSB. Isso quer dizer que vai ter lugar no seu palanque para o Eduardo Campos?
Claro. O nosso modelo é o que eu chamo de solução acriana. Em 1998, para derrotar a turma da motosserra, do crime organizado no Acre, todas as forças se juntaram em torno do (candidato do PT) Jorge Viana, inclusive o PSDB. Havia uma questão regional mais forte, que é o caso do Maranhão, evitar os 50 anos do Sarney (no comando do estado). A gente busca um palanque amplo.
O ex-presidente Lula ou alguém do PT nacional chegou a fazer um apelo para que o senhor não ceda o palanque para o Eduardo Campos?
Não, a conversa com o PT é conduzida pela direção nacional do PCdoB. O que o PCdoB tem colocado é que queremos o apoio do PT. Se não tivermos, é claro que isso tem consequências. Estamos esperando a reciprocidade do PT.
Se o senhor fechar apoio ao PT, seu palanque não terá mais espaço para o Eduardo Campos?
Claro que tem espaço para Eduardo Campos. O PSB vai estar na nossa coligação, vai ter o candidato a senador na nossa chapa.
Independentemente do que acontecer, parcela do PT do Maranhão vai fazer campanha para o senhor.
A parcela majoritária, inclusive, a base real do PT. E não poderia ser diferente. Essa questão no Maranhão é muito forte, não existe meio termo. Não existe o morno: é quente ou frio. Historicamente o PT do Maranhão é uma força antioligárquica. Essa virada do PT a favor de Sarney é muito recente. A questão no Maranhão não é só política, é meio sociológica.
Quando o senhor vai deixar a presidência da Embratur?
Em janeiro. Eu poderia ficar até junho, porque o prazo legal para autarquias é de quatro meses (antes da eleição).
Se o PT apoiar o PMDB, e o senhor estiver junto com o Eduardo Campos, fica desconfortável para o senhor permanecer no governo?
Minha situação é absolutamente confortável. Estou aqui no espaço que compete ao PCdoB, que apoiou Lula e Dilma sempre. Não estou aqui em nome próprio. E não estou aqui indicado pela presidente Dilma, apenas. Estou aqui em uma cota partidária, conseguida nas urnas. Eu informei a presidente, há cerca de duas ou três semanas, que sairei em janeiro.
Parece que a presidente Dilma não gostou nada de uma foto do senhor com o Eduardo Campos...
Mas eu tenho uma com ela também, lindinha, bem agarradinho com ela (rindo).
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