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sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Artigo do Edson Vidigal: Não bateu asas, mas voou

A cabeça que chamam de cauda está na altura de um prédio de seis andares. Não há um bicho no mundo com setenta e três metros de comprimento. Tudo nele é enorme - sessenta e oito metros em cada asa. Pode gerar energia para consumo equivalente a quatrocentos e oitenta mil aparelhos de TV de trinta e duas polegadas.

Voa a novecentos e vinte quilômetros horários o que equivale, para se ter uma ideia, a atravessar três campos de futebol tipo Mané Garrincha emparelhados por segundo. 

Somos trezentos e oitenta e seis passageiros que embarcam nesse monstrengo em Frankfurt, Alemanha, querendo chegar sãos e salvos, o quanto antes, em Guarulhos, São Paulo, Brasil. Olha só a pirâmide social - na primeira classe, apenas oito pessoas, no máximo.

Oitenta na executiva e o restante na econômica. Lógico que estamos, Eurídice e eu, nessa categoria que comparada com o melhor e mais caro dos voos domésticos do Brasil, como diria o grande Ary Barroso, é luxo só.

Então, estamos nós aqui, uma telinha de TV à frente, pouco espaço para esticar as pernas, mas uma mordomia de fazer inveja aos donos e amigos dos Leões do Palácio nos tempos em que o Damasceno ditava os destinos dos Chivas e Champagnes em cada dezembro no Natal.

Mais de cem filmes estão em oferta até em português tudo de modo a fazer com que o tempo passe rápido. Prefiro a câmera no percurso lá fora. Depois da Alemanha, Luxemburgo, França, Espanha, uma beirada de Portugal, Cabo Verde, mais Atlântico, litoral nordeste do Brasil até que cortando em linha reta, enfim, Guarulhos, São Paulo, Brasil.

Ao todo, doze horas de viagem. 

Agora preciso despertar em mim a cidadania. São inúmeros os obstáculos que vou encontrando - desde o carrinho-bagageiro com defeito nas rodas que só rumam para a direita e eu sei para onde quero ir ao sanitário ainda fechado aos necessitados às nove horas da manhã.

Respirar fundo e encarar o que ainda me resta pela frente. Ufa, isso aqui, afinal, agora é só um pouquinho de Brasil, este País que canta e e’ feliz, feliz... 

(Edson Vidigal, advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal. Enfim, chegou ao Brasil voltando de Moscou)

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