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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Artigo do Edson Vidigal: Mutilada

A esperança quase que agoniza e a Nação parece esmorecer sempre que um servidor público atravessa aquela ponte invisível, inarredável e inevitável.

A ninguém é defeso saber quando e como. A certeza irrevogável a marcar todos nós por essas paragens terrenas é a de que a travessia da ponte acontece a cada um na sua vez.

O Eduardo nascido para ver o mundo com seus olhos azuis, mas nem por isso de modo a se conformar com a injustiça das desigualdades sociais, lega às novas gerações convicções e atitudes de um servidor público exemplar.

Por décadas o Presidente da República viajou naquele avião que de tão velho e inspirador de medos ficou conhecido como sucatão. Foi a bordo do sucatão numa viagem do Lula a Petrolina – PE que conheci de perto o Eduardo.

Na cabine reservada ao Presidente e seus convidados estavam além do Eduardo, a Dilma, o Humberto, o Bebeto e o Carlos Wilson.

O Lula chamava os Ministros e enquanto viajavam cobrava relatórios e providencias da área de cada um.

Era tudo tão informal que até eu, que estava ali apenas como um convidado do Presidente fui instado por ele a dar opinião.

O Eduardo, na sua vez, me impressionou pela exatidão dos números, a clareza na exposição, o entusiasmo de um espirito público à flor da pele. Inescondível que o Lula gostava muito dele.

Quando, ao depois, renunciei à Presidência do STJ, desincompatibilizando-me para disputar as eleições para Governador do Maranhão e não sabendo ainda por qual partido, filiei-me ao Partido Socialista Brasileiro e o Eduardo fez questão de abonar-me a ficha numa solenidade em Brasília, a que compareceram a Renata, sua companheira da vida inteira e a Euridíce, quanto a mim também.

Numa reunião do PSB em Recife-PE, estive com Eduardo, já então Governador no primeiro mandato e vendo aquela sua garra pelo interesse pública era algo assim transpirante, provoquei-o indagando se não pensara em candidatar-se a Presidente da República. Respondeu que ainda teria muito a fazer no seu Estado.

Saí de Recife convencido de que o Eduardo preparava-se como um aluno aplicado para as difíceis provas presidenciais. No segundo mandato, não deu outra. Com resultados, os mais positivos, obtidos por sua gestão, estava aí o Eduardo irradiando entusiasmo e esperanças ao Brasil.

O Eduardo fez a travessia da ponte a bordo de um excelente e moderno avião que caiu no tempo ruim, de visibilidade nenhuma, quase chegando aonde queria chegar – ao chão firme da cidade de Santos, em São Paulo.

Uma vez eu iria a Imperatriz fazer uma palestra numa reunião da bancada da Amazônia no Congresso Nacional. Seria um dos passageiros do avião no qual iriam três ou quatro Deputados estaduais, dentre eles o meu amigo João Silva, do Pindaré.

Pouco antes de embarcar para São Luís, o Madeira, então Presidente do Instituto Teotônio Vilela e hoje Prefeito de Imperatriz, me telefonou informando que eu estava na lista dos que iriam no sucatão da Presidência da República, o que mesmo que plantou tanto medo em tanta gente até o Lula mandou comprar um avião novo e moderno, o Aero lula.

A reunião foi cancelada antes da decolagem do sucatão. O avião com os Deputados despencou de um nevoeiro. Não escapou ninguém. O Madeira foi o estafeta do anjo que mandou me tirar da fila da ponte. Tenho muitas outras sobre escapadas de avião. Acho até que como o Eduardo vou atravessar a ponte voando.

Escrevo em estado de choque. Poucas vezes uma mutilação na asa de uma esperança me doeu tanto como essa que tocou na esperança que se encarnava no Eduardo.

(Por Edson Vidigal é advogado, ex-vereador de Caxias, ex-deputado federal, professor e ministro aposentado do STJ)

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