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terça-feira, 18 de março de 2014

UMA VIAGEM EM BUSCA DE UM SONHO

18 de março de 1974, era uma manhã ensolarada, apesar do período, com uma maleta de Madeira revestida com papel, parti de Teresina para São Paulo a bordo de um ônibus sem nenhum conforto da Empresa Teresinense, que nos levaria até o Rio de Janeiro. La na companhia de dois irmãos, Jonas e Ribamar que era sargento do exército com base em realengo no Rio de Janeiro e estava sendo transferido para Pirassununga SP.  Desembarcamos na rodoviária do Rio, compramos a passagem para Pirassununga, na Empresa Danúbio Azul. Riba teria que se apresentar em realengo, cumprir os procedimentos do exercito para depois se apresentar em Pirassununga, já com outra patente. 

Eu e Jonas fomos para o endereço de um primo há anos residente e bem situado na capital, carioca. Chegamos cedo ao apartamento. Quando a esposa do primo abriu a porta nos apresentamos e ela nem perdeu tempo, foi logo dizendo: mas aqui não tem onde vocês ficarem, pois o apartamento é muito pequeno e mal cabe nossa família. Eu me antecipei e disse que a gente tava de passagem e expliquei o restante da situação. Ai a coisa melhorou um pouco, entramos, tomamos banho e depois do café partimos de volta já na companhia do militar. Chegamos a Pirassununga, a idéia era tentar um trabalho para mim e Jonas, um lugar para morar, já que Riba tinha direito a uma casa na vila militar, mas não era permitido morar outras pessoas e claro, no meu caso perseguir meu grande sonho de fazer engenharia civil. Percorremos vários lugares e nada. Finalmente fomos para São Paulo quase sem dinheiro e apenas com o endereço de tia Quincas. Chegamos quase meia noite e pegamos um taxi para o endereço, Rua Cajuru, 730, Belém. Qual foi nossa surpresa, no endereço funcionava a Associação de Instrução e Trabalho para Cegos. Constrangidos. Caminhamos  até a Av. Celso Garcia em busca de um lugar para tentar dormir um pouco, descansar, esperar a manhã para retornar ao endereço. Acabamos chegando no Largo da Concórdia e nos acomodamos em um hotelzinho denominado bonança. Por volta de 9 horas da manhã do dia 23 de março, retornamos ao endereço da tia. Ela tinha uma conhecida que nos alugou um quarto próximo do seu trabalho, na Rua São Leopoldo. Lugarzinho até bom, no térreo, gás canalizado, uma televisão, um fogãozinho e um banheiro próximo.  Dona CIDA era a dona do imóvel e da pensão onde passamos a fazer as refeições para pagar no apurado, avalizado pela tia Quincas e seu namorado João que é deficiente visual e trabalhava junto com ela na Associação. 

O Jonas logo arrumou um emprego na fábrica de fogões Semer, na mesma rua que passamos a morar. Eu, em função de nunca ter trabalhado de carteira assinada, passei em todos os testes que fiz em várias Empresas, mas nada, até que aceitei um emprego de ajudante para serviços gerais na Colméia Radiadores no Tatuapé, a uns 4 quilômetros de nossa residência. Horário: de 6 da manhã às 2 da tarde numa linha de produção que tinha aproximadamente 50 homens. Me deram vários equipamentos de segurança e por último um respirador contra gazes orgânicos. Confesso que, uniformizado, fiquei parecendo o giraia, um desenho animado que fazia sucesso na época. Trabalhei três dias e no terceiro dia, ao retornar, vinha tão desolado que passei do quarteirão que deveria dobrar e tive que retornar pela outra rua. Ao pegar a Rua Cesário Alvim, vi uma placa de oferta de vaga para auxiliar de almoxarifado e olhei o nome da Empresa, GATES DO BRASIL S.A. Entrei me apresentei para o chefe do departamento de pessoal, Abgail Bueno da Silva, que me atendeu gentilmente, mas foi logo adiantando que teria que ter experiência comprovada em carteira. Abri o jogo para ele e pedi uma chance. Ele me disse: traz teus documentos, vou me arriscar. Meti o pé na carreira até na Colméia no Tatuapé. Fui direto ao DP e falei com seu Vanderlei que queria meus documentos. Ele disse, mas a carteira ainda nem foi assinada! Eu disse melhor ainda me dê meus documentos pelo amor de Deus. Voltei correndo, entreguei ao Sr. Abgail, fiz um exame médico e fui pra casa, a um quarteirão e meio do Emprego. Fui dormir feliz e quando me espantei faltava dois minutos pra sete, o horário que eu deveria entrar. Lavei o rosto, me vesti fui correndo, mas mesmo assim bati o cartão de ponto com um minuto de atraso no primeiro dia de trabalho. Comecei organizando fardos de lonas com carrinho de mão daqueles que só tem o chassi, meu chefe imediato Joaquim Tibúrcio de Andrade, era um senhor que só tinha o primeiro grau e passou a me olhar de lado quando soube que eu era técnico em Edificações e tinha muita intimidade com máquina de escrever e de calcular, além de um bom conhecimento de contabilidade. Logo logo passei a encarregado da parte de manutenção do almoxarifado. Comecei a ter um bom entrosamento com o gerente e outros funcionários, e num campeonato interno de futebol de salão, o nosso departamento só tinha eu que praticava esporte e me manifestei para participar. Fui convidado pra jogar no time do departamento de pessoal. Fiquei no banco em todo o primeiro tempo, e com o cansaço dos titulares, fui convidado a entrar e ai não deu outra, fiz os gols necessários à vitória. Passei a titular do time da empresa nas modalidades futebol de salão e de campo. Ai o entrosamento se intensificou com toda a Empresa, principalmente com os funcionários.

Com pouco mais de um ano, com a aposentadoria do gerente, Sr. Sergio Garbim, meu chefe imediato, Mário Carvalho da Costa foi promovido a Gerente e Eu passei a chefe do controle de produção abaixo apenas do gerente. Hierarquicamente era chefe de quase todos que tinham sido meus chefes. A GATES existia em 50 países com sede central em Denver nos Estados Unidos. No Brasil, em alguns estados do sudeste e com almoxarifado central em Jacareí São Paulo. Um dos diretores, um Venezuelano de nome Fernando Valenzuela, me indicou para ser chefe do almoxarifado central. Como sempre tem alguém para tentar atrapalhar a vida dos outros, um chefe da parte administrativa, fez uma campanha contra, alegando que eu era muito jovem. Fui prejudicado, pois aos 21 anos iria ter um cargo importante e um salário de U$ 10.000, morando numa cidade próspera e geograficamente colada a São José dos Campos, cidade com muitas possibilidades de se fazer um curso de Engenharia, que insistentemente eu perseguia.

Logo que comecei a trabalhar na GATES, me matriculei num curso pre-vestibular, CAPI Vestibulares, na rua São Judas, próximo à liberdade, no centro de São Paulo. Por alguns problemas, fui morar no Itaquera, ( um erro ) e trabalhando no Belém, a coisa complicou pois passei a depender de trem e de ônibus. Do curso ia a pé até o Parque Dom Pedro e lá pegava ônibus até o largo da concórdia onde  pegava o trem da central do brasil até Itaquera. Se fosse de ônibus era pior. Chegava em casa meia noite ainda tendo que caminhar quase um quilômetro da estação até em casa, na rua Carolina Fonseca. Às seis da manhã tinha que está de volta à estação, por algum tempo levando marmita. Perdi muito tempo em transporte coletivo, A cidade á época já tinha sérios problemas no setor.

Fiz três vestibulares, uma para Física na USP, dois para engenharia civil, um em Mogi das Cruzes e outro em São José dos Campos, todas públicas, mas não consegui êxito. Me preparava para outro na Faculdade de tecnologia de São Paulo FATEC, freqüentando   Um  curso especifico, Unitécnico, próximo à estação da luz, quando fui comunicado da criação do curso de Engenharia Civil na Universidade Federal do Piauí. Tirei Umas férias e peguei a estrada, dois dias e meio de viagem,  me certifiquei de tudo, de volta a SP, apenas pedi demissão e em 16 de agosto de 1974, retornei a Timon.

Foram dois anos e meio de muita luta, mas nenhum desânimo e nenhum arrependimento.

A partir dai, são vários capítulos, o tempo passou, e neste 18 de março de 2014, faz quarenta anos que parti com objetivo definido, focado em me formar. Não foi possível, mas ganhei experiência e conhecimento que me permitiram ver a vida como ela é, e principalmente conceber que na vida quase tudo é possível quando acreditamos e fazemos nossa parte. Quando as coisas dependem só de mim, mais cedo ou mais tarde vencerei. E não é de qualquer jeito...

Engenheiro Chico Leitoa

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